sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Fisiologia do Fígado

   O fígado é constituído por milhões de células, como se fossem milhões de tijolinhos agrupados. Cada célula representa uma microindústria e desempenha uma função específica, essencial para o equilíbrio do organismo. O fígado é um órgão de funções múltiplas e fundamentais para o funcionamento do organismo. Entre elas, destacam-se:

a) Secretar a bile - A bile que funciona como detergente e auxilia na dissolução e aproveitamento das gorduras. Por isso, quando os canais da bile entopem, o metabolismo das gorduras fica prejudicado;
b) Armazenar glicose – A glicose extraída do bolo alimentar é armazenada no fígado sob a forma de glicogênio, que será posto à disposição do organismo conforme seja necessário. Nesse caso, as células hepá-ticas funcionam como um reservatório de combustível.
c) Produzir proteínas nobres - Entre elas, destaca-se a albumina, uma substância muito importante para o organismo, porque mantém a água dentro da circulação. Além dessa, a albumina tem outra função curiosa. Serve de meio de transporte, na corrente sanguínea, para outras substâncias, como hormônios, pigmentos e drogas.
d) Desintoxicar o organismo – O fígado tem a capacidade de transformar hormônios ou drogas em substâncias não ativas para que o organismo possa excretá-los;
e) Sintetizar o colesterol – No fígado, o colesterol é metabolizado e excretado pela bile;
f) Filtrar microorganismos - Há uma extensa rede de defesa imunológica no fígado. Além das células hepáticas, existem inúmeros “tijolinhos” responsáveis por segurar bactérias ou outros microorganismos que transmitem infecções.
g) Transformar amônia em uréia - O fígado é um órgão privilegiado. Tem uma artéria e uma veia de entrada e uma veia de saída. A veia de entrada recebe o nome curioso de “veia porta” e é responsável por 75% do sangue que chega ao fígado, levando consigo substâncias importantes, como as vitaminas e as proteínas. No entanto, por ela chega também à amônia produzida no intestino e derivada especialmente de proteínas animais para ser transformada em uréia.

    As estruturas situadas entre o lúmen do intestino e o sangue são as camadas de muco que cobre as microvilosidades, o epitélio da mucosa, o espaço intersticial, e as paredes capilares. As vias percorridas através dessas diferentes barreiras diferem para as diferentes substâncias. As formas em que as moléculas de nutrientes podem ser absorvidas pelo corpo são geralmente bastante diferentes para as moléculas mais complexas oferecidas na dieta. A digestão de lipídios, de carboidratos e de proteínas tem um fator em comum, todas elas envolvem uma hidrólise. Nas reações hidrolíticas, é rompida a ligação que une as subunidades da molécula alimentar, e um íon hidrogênio e um íon hidroxila de uma molécula de água são adicionados às duas extremidades da molécula subdividida. As enzimas digestivas catalisam a hidrólise de categorias específicas de ligações; sua ação é otimizada por secreções que ajustam o pH e a força osmótica do conteúdo do tubo gastrintestinal.
   Após o alimento ser reduzido a moléculas que podem ser transportadas para dentro do corpo, tem início o processo de absorção. Muitos açúcares e aminoácidos são transportados para dentro das células epiteliais do intestino delgado por sistemas de cotransporte mediados por carreadores "energizados" pelo movimento do Na+ ao longo de seu gradiente de concentração e para dentro das células. O custo energético desse sistema de transporte é pago pelo ATP consumido pela Na+ -K+ ATPase para bombear para fora os íons Na+ que entram por este cotransporte. As gotículas lipídicas grandes e insolúveis têm de ser decompostas em gotículas menores antes de poderem ser integralmente digeridas no intestino delgado. Após a digestão, em vez de passar das células epiteliais para o plasma juntamente com os açucares e os aminoácidos, os lipídios seguem outra via. Primeiro eles passam para os vasos lacteais e, depois, para a circulação sistêmica juntamente com a linfa.
     Dos 8,5 L de água que entram no sistema gastrintestinal a cada dia, cerca de 7,5 L são normalmente absorvidos pelo intestino delgado e cerca de 0.9 L é absorvido pelo intestino grosso,deixando 100 ml nas fezes. A maior parte da absorção de água no tubo gastrintestinal ocorre pelo mesmo mecanismo encontrado nos túbulos proximais renais. Isto quer dizer que a reabsorção de água é secundária ao transporte ativo de Na+. Uma bomba de Na+, localizada na superfície basolateral das células epiteliais intestinais, transporta Na+ ativamente do citoplasma das células epiteliais para o líquido intersticial, reduzindo a concentração intracelular de Na+. Como conseqüência, o Na+ penetra nas células epiteliais Por difusão a partir do lúmen do tubo gastrintestinal e o movimento passivo de Cl-, juntamente com o Na+, mantém a neutralidade. O efeito final é o movimento de NaCl, inicialmente para o líquido intersticial e, depois, para os capilares. O transporte de sal cria um gradiente osmótico entre o lúmen do tubo gastrintestinal e o liquido intersticial, e esse gradiente osmótico dependente do transporte de Na+ é a principal força motriz para a absorção de água pelos capilares.
     Aminoácidos e açúcares são captados pelas células epiteliais intestinais por sistemas específicos de cotransporte dependentes do Na+. Este é um segundo mecanismo que cria gradiente osmótico para o movimento da água, porque seu efeito final é captação de NaCl. Alem disso, a absorção de aminoácidos e açúcares diminui a osmolaridade do quimo, gerando força motriz osmótica para a absorção de água. Um fator interessante, porém de menor importância, que contribui para a absorção da água é a reação do H+ liberado no estomago com o HCO3 secretado pelo pâncreas e pelas células secretoras do intestino. Esses dois íons combinam-se formando H2CO3, que é decomposto nas células epiteliais, produzindo CO2 e H2O. Assim, duas partículas que aumentam a atividade osmótica do quimo reagem para produzir uma molécula de H2O e o gás CO2, os quais passam para o sangue.
   O quimo que chega ao duodeno proveniente do estômago e normalmente hipertônico. A permeabilidade do duodeno à água é alta e a água flui osmoticamente para o quimo, tornando-o isotônico. Após o equilíbrio duodenal, água, eletrólitos e produtos finais da digestão são reabsorvidos na passagem do quimo pelo restante do tubo gastrintestinal. Como o intestino delgado é permeável à água, o quimo permanece isotônico no jejuno e na maior parte do ílio, com a reabsorção de solutos e de água ocorrendo com a mesma intensidade.
     A quantidade de água absorvida pelo sistema gastrintestinal depende da rapidez com que o quimo passa pelo intestino. A passagem rápida do material pelo intestino delgado não permite tempo suficiente para o transporte e absorção de solutos, e a água também não é absorvida. Absorção reduzida de líquidos e eletrólitos pode ocorrer quando a motilidade aumenta, devido à irritação do epitélio. Inversamente, quanto mais tempo o material permanece no intestino grosso, maior é a quantidade reabsorvida de água.
   Os íons que não podem ser reabsorvidos, tal como o Mg++ (ingredientes de vários laxantes e antiácidos), podem ser ingeridos, e sua presença mantém elevada a osmolaridade do conteúdo intestinal, impedindo que a água seja absorvida para fora do lúmen do tubo gastrintestinal. A diarréia conseqüente a esta reabsorção hídrica insuficiente é produzida por um mecanismo que é semelhante à ação dos diuréticos osmóticos.
   O fígado tem papel importante na digestão, no metabolismo energético, na biossíntese e na desintoxicação. Sua função digestiva é a secreção de bile, que é essencial para a digestão dos lipídios no intestino. A bile é secretada continuamente e passa do fígado para a vesícula biliar, onde é armazenada e concentrada. Durante a digestão, as contrações da vesícula biliar expelem a bile para o duodeno.
    O sangue que passa pelos capilares do estômago, intestino delgado e grosso, baço e pâncreas é levado pela veia porta hepática. Esse sangue passa por um segundo conjunto de capilares no fígado antes de retornar ao coração. Cerca de 75% do sangue que chega ao fígado provêm do sistema gastrintestinal, pela veia porta hepática, e os outros 25% (trazendo oxigênio vital para as células hepáticas) vêm da circulação sistêmica, pela artéria hepática. O sangue de ambas as origens sai do fígado pela veia hepática.
     As células hepáticas, ou hepatócitos, estão dispostas numa serie de folhetos com apenas uma ou duas células de espessura, separados pela rede capilar hepática. Os lóbulos, ou unidade funcionais do fígado, são folhetos de hepatócitos organizados em torno de uma veia central. Grandes capilares, ou sinusóides, passam entre os folhetos de hepatócitos. Os sinusóides recebem sangue enriquecido pelos nutrientes absorvidos por um ramo da veia porta hepática. Esse sangue tem baixo teor de O2, por já haver efetuado o aporte de O2 ao tubo gastrintestinal. Entretanto, os sinusóides também recebem sangue com elevado conteúdo de O2 da artéria hepática, e este se mistura ao sangue porta. O suprimento sangüíneo da artéria hepática para o fígado atende as necessidades das trocas gasosas deste órgão e também possibilita que ele regule a quantidade de açucares e aminoácidos na circulação geral. A bile secretada pelos hepatócitos não passa para o sangue, mas, sim, para dutos especializados que formam um sistema de canais, denominados canalículos biliares, localizados em cada lóbulo do fígado. Estes acabam Por convergir para formar o duto cístico.
     O fígado tem papel importante na metabolização de numerosas substâncias encontradas no sangue, incluindo medicamentos, hormônios e produtos metabólicos finais. O fígado converte algumas substâncias a formas mais hidrossolúveis que podem ser eliminadas pelos rins. Em geral, isto é realizado por conjugação (adição à substancia de um grupo polar, como o ácido glicorônico, a taurina ou a glicina). Um exemplo de substância tratada desta forma é a bilirrubina, o produto das porfirinas tóxicas liberadas na degradação da hemoglobina. As substâncias conjugadas podem passar para a bile ou reentrar no sangue e ser excretadas pelos rins por uma via secretora específica para ânions orgânicos. O fígado também converte algumas substâncias a formas menos tóxicas. A amônia, por exemplo, é convertida em uréia, de menor toxidade. As enzimas do fígado degradam alguns hormônios e convertem certos medicamentos e toxinas a formas inativas, enquanto outros medicamentos, e algumas toxinas tornam-se, de fato, mais tóxicos devido a reações no fígado. A capacidade de desintoxicação do fígado relativamente aos medicamentos diminui com a idade, de modo que doses apropriadas para adultos jovens podem produzir níveis plasmáticos excessivamente elevados, e, portanto, efeitos colaterais tóxicos, nas pessoas de mais idade.
    Outro papel do fígado é sintetizar todas as proteínas plasmáticas, exceto as alfa-globulinas. As proteínas secretadas pelo fígado incluem a albumina (importante na manutenção da pressão osmótica do plasma), as proteínas carreadoras para o transporte plasmático de colesterol e de triglicerídeos, fatores da coagulação, angiotensinogênio e as proteínas do complemento envolvidas na resposta imune.





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Referências

Sites:

http://www.todabiologia.com/citologia/celula_animal.htm

http://www.universitario.com.br/celo/topicos/subtopicos/citologia/celula_unidade_vida/celula.html

http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/Celula.php

http://intervox.nce.ufrj.br/~pavesi/curiosidades/corpo.htm



Livros:

BERKALOFF, A. Biologia e fisiologia celular, s/Ed, São Paulo, Edgard Biucher/USP, 1972

NOVIKOFF, A.B - HOLTZMAN, E. Células e estrutura celular,s/ed, Rio de Janeiro, Interamericana, 1977.